Coisas e Cinema

Wednesday, April 25, 2007

O Nome da morte



O Nome da morte – A história real de Júlio Santana, o homem que já matou 492 pessoas.
Editora: Planeta.
Ano: 2006.
Autor: Klester Cavalcanti.


Seguindo a linha do nosso último post literário: esse é mais um livro reportagem. Dessa vez a história contada é a de um matador de aluguel: Júlio Santana, nascido no Maranhão, região nordeste do Brasil.
O livr
o foi escrito pelo jornalista pernambucano Klester Cavalcanti, também autor de “Viúvas da terra”, pelo qual recebeu o prêmio Jabuti de
literatura de 2005 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%AAmio_Jabuti).
Em março de 1999, Klester Cavalcanti fazia uma matéria sobre o trabalho escravo na Amazônia. Durante esse processo, tomou conhecimento de que pistoleiros eram muito comuns na região. Diante dessa realidade, Klester se viu “obrigado” e escrever sobre o assunto. Inicialmente, pensava em fazer um perfil de um desses matadores para a revista para a qual trabalhava, no entanto, à medida que o tempo passava e diante da história de vida do personagem em questão, ele percebeu que aquela história precisava ser contada em um livro.

Foram sete anos de conversas telefônicas com o personagem principal dessa trama. Por medo de ser preso, Júlio Santana, o matador, não queria autorizar que a sua identidade fosse revelada, mas ao decidir mudar de vida, em 2006, resolveu autorizar essa revelação.
Foram cerca de 35 anos de trabalho e quase 500 mortes no seu currículo. Júlio, conhecido por sua eficiência e discrição no trabalho de matador, nos é apresentado sem julgamentos. Vemos sua trajetória desde o princípio. E ao ler essas páginas é até mesmo possível sentir pena ou compaixão, chamem como acharem melhor, por esse homem que tem a morte como profissão. Um homem que mata à sangue frio e por dinheiro. Temente a Deus, mas que acredita estar livre de seus pecados, pois a cada morte, ele reza dez ave-marias e vinte pais-nossos. Foi assim desde o seu primeiro assassinato até o último.
Aqui, vemos sua história desde a adolescência. Seus medos, aflições, amores e sonhos. Vemos seu primeiro contato com essa ‘profissão’, sua participação na guerrilha contra os comunistas, vemos as angústias e arrependimentos de uma alma. Vemos também a naturalidade com que tudo pode ser encarado. Um dedicado pai de família e esposo exemplar. Vemos um homem. Vemos um matador. A riqueza de detalhes de cada relato é impressionante! Desde refeições, roupas até a maneira como os fatos aconteceram.

O interessante é que, de tão surreal, a obra parece mesmo tratar de uma ficção e não de uma reportagem. Há um comentário sobre isso no prefácio do livro e eu não poderia deixar de falar sobre isso aqui. Cada página, cada relato, parece ser fruto da imaginação do autor, mas não é. São frutos de uma pesquisa árdua, do contato com diversas fontes, de um mergulho na vida de Júlio Santana.


Natali Assunção.

Thursday, April 19, 2007

Pão e Tulipas





Pão e Tulipas (Pane e Tulipani)
Itália, Suíça / 115 min. / 2000.
Dir. Silvio Soldini.
Elenco: Lícia Maglietta; Bruno Ganz.


Fui à locadora hoje. Queria pegar um filme francês que loquei na semana passada e não tive tempo de assistir, mas, óbvio, estava locado! Passei a vista em uma das prateleiras e vi “Pão e tulipas”. Pensei: “Já ouvi falar desse filme”. Li a sinopse. Adorei. “Vou levar”. Escolhi outros dois.
“Pão e tulipas” conta a história de Rosalba, esposa, dona de casa e mãe de dois rapazes. Rosalba sai de viagem com sua família. E, nessa excursão, acaba sendo esquecida em uma das paradas feitas pelo grupo com que viaja de ônibus. Após um bom tempo, seu marido e filhos dão pela sua falta. Mas, ao invés de esperar por eles, decide voltar sozinha pegando carona. Durante o percurso decide realizar seu sonho de conhecer Veneza. A partir daí, sua vida dá uma guinada inesperada e situações nunca antes imaginadas por ela passam a acontecer. Essa é a jornada de uma mulher que se descobre infeliz e também capaz de buscar essa tal felicidade.
Um filme sensível e envolvente. Daqueles que emocionam pela simplicidade, pelas idéias, pelos personagens, pela atmosfera que possui. Daqueles que fazem rir. Um filme gostoso de ver.
Devo confessar que esse longa me lembrou outro (mais recente): “Sob o sol da Toscana”. Também indico, a semelhança reside no fato de que nesse, também há uma mulher que, após descobrir que foi traída pelo marido, por um acaso do destino, muda radicalmente de vida. Passa a morar em outro país e tenta reconstruir sua vida. Essas duas mulheres são bem diferentes. A primeira vive um casamento infeliz e possui uma família que não a percebe, a segunda se vê traída e perde o chão, como dizem. Mas as duas, sem planejar nada, mudam radicalmente de vida e se vêem capazes de encontrar felicidade e realização pessoal. Não vou me prolongar nessa comparação, sobre “Sob o sol da Toscana” falo depois.
Por hoje só quero mesmo indicar esse “Pão e Tulipas”. Comédia envolvente... Daquelas que quando acabam você fica com a alma leve e o coração feliz.
Natali Assunção.



Sunday, April 15, 2007

Ó PÁI Ó







Ó PAÍ Ó, 2007, 96 min.
Elenco: Bando de Teatro Olodum, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Emanuelle Araújo, Dirá Paes, Gustavo Mello e Stênio Garcia.
Dir.: Monique Gardenberg.


Bem, Ó paí ó é um filme que eu gostei desde a primeira cena.

Ele conta a história de 12 pessoas que moram em um cortiço no bairro da Barroquinha, perto do Pelourinho, em Salvador. O personagem principal é Roque interpretado por Lázaro Ramos que no filme é pintor, cantor e compositor.

A história de Ó paí ó se passa em pleno carnaval baiano e os personagens da trama começam a ter problema com a dona do cortiço em que moram, Dona Joana, interpretada por Luciana Souza, que resolve fechar o registro de água do local para dar um “troco” em quem gosta de curtir a festa, já que ela é evangélica e acha o carnaval uma festa do pecado. Mas o bom do filme é que ele não se restringe somente a esse problema.

O filme é muito envolvente, as atuações, de todos, são ótimas. A trilha sonora também é ótima, tudo a ver com o carnaval e com a Bahia, só uma música de Calypso que destoa um pouco do contexto, mas combina com a cena.

Uma das cenas que eu achei mais interessantes foi a que o personagem de Lázaro Ramos dá uma lição de moral no personagem de Wagner Moura, que o trata de forma preconceituosa e, depois disso, se torna uma das cenas mais bonitas do filme.



Bom, pra resumir, o filme tem um elenco ótimo, uma trilha sonora muito boa, a história envolve todo mundo e é muito bom de se ver.

P.S.: Não assistam o filme com uma mulher cantando todas as músicas do seu lado, não é recomendável e tomem cuidado pra não cair da escada dentro da sala de cinema. ¬¬

Site Oficial do filme: http://www.opaio.com.br/ [se der passem na parte da trilha sonora e dê uma escutada nas músicas... raridades].

[link pra um vídeo de Roque (Lázaro Ramos) cantando para Rosa (Emanuelle Araújo)]
http://www.guiadasemana.com.br/film_MM.asp?ID=11&cd_film=1708&cd_multimidia=625

Talita Arruda =)

Thursday, April 12, 2007

ABUSADO


ABUSADO [O Dono do Morro Dona Marta], Caco Barcellos, Rio de Janeiro, Editora Record, 2003.


"Paulista ainda arrancou do pescoço de José Roberto um cordão de ouro em forma de argolas ovais, que prendia uma plaqueta dourada com uma pequena pedra de rubi, avaliado em 240 mil cruzeiros, equivalentes a 480 dias de pintura de parede. Apenas com os pertences do juiz, Paulista faturou 1,7 milhão de cruzeiros, conforme a avaliação dos peritos criminais do Rio de Janeiro. Para Paulista ganhar este montante de dinheiro honestamente seria necessário passar 4.250 dias, ou 11 anos, pintando paredes." [Pág. 139 e 140]

Para escrever o livro-reportagem "Abusado", Caco Barcellos conviveu durante 5 anos com o traficante Juliano [Marcinho] VP, integrante do Comando Vermelho.

A história se passa no Morro Santa Marta, no Rio de Janeiro, e fala sobre o tráfico, violência, a vida do traficante Juliano VP e como algumas pessoas são levadas a entrar para o crime. O livro nos apresenta um quebra-cabeça a respeito do Morro e das pessoas que vivem por lá que conseguimos montar de acordo com o que nos é apresentado por Barcellos.

Caco Barcellos escreve esse livro como poucos escreveriam, não há nenhum tom de sensacionalismo, a história já é “revoltante” por si mesma, sem interferência do autor [revoltante no sentido de o que as pessoas comuns, às vezes, precisam fazer para tentar diminuir as diferenças sociais]. E interessante é que esse livro não tem o tom de denúncia, é como se o que a gente fosse fazer depois desse livro dependesse da gente mesmo.

O livro é dividido em três partes e na última, intitulada “Adeus às armas”, Caco Barcellos conta como conseguiu a entrevista, como o traficante Juliano VP o procurou para fazer sua biografia e onde foram os locais onde eles se encontraram.

Algumas pessoas criticaram esse livro, já que alguns meses depois da publicação Juliano foi assassinado na cadeia onde ele estava preso e dizem que Caco Barcellos foi antiético quando publicou um livro que pôs em risco sua principal fonte. Maaaas quem permitiu a publicação e deu a idéia para escrever sua biografia foi o próprio Juliano.

P. S: Juliano [Marcinho] VP foi quem liberou o morro para a gravação do clipe “They don’t care about us” de Michael Jackson em 1996.
[Link pro vídeo http://www.youtube.com/watch?v=PdbQz6TBxLM]

[Trecho de uma entrevista do autor logo após o lançamento do livro no site Observatório da Imprensa] “Quase todos os personagens do livro ganham muito mais do que seus pais operários e mães empregadas domésticas. Se a situação da renda fosse invertida, tenho certeza de que a maioria abandonaria o tráfico. Caso contrário, não haverá repressão imediatista, por mais brutal que seja, que os convença a seguir o caminho dos pais, explorados de forma perversa a vida inteira.”
[Entrevista completa]
http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/al170620031.htm

Caco Barcellos também é autor de “Rota 66” [A história da polícia que mata], Editora Record, 2003. E segue a mesma linha de livro-reportagem [pensei que eu já tivesse escrito pro blog sobre esse livro – que me fez chorar – mas descobri que não ¬¬’]. E do livro “Nicarágua [A revolução das crianças]. (Não achei a editora nem o ano =~)
Talita Arruda =)

Tuesday, April 10, 2007

PS, I LOVE YOU


PS, I LOVE YOU
CECELIA AHERN
HYPERION NEW YORK

Não sou de ler romances. Não é que eu não aprecie histórias de amor, eu gosto. Adoro ver comédias românticas no cinema, por exemplo. É só que, quando se trata de livros, eu, simplesmente, não tenho esse gênero como preferência. Vez ou outra (raro) eu até leio, inclusive, adorei Dom Casmurro, mas não é comum. Então, uma pessoa me falou desse PS, I Love You e quis me emprestar, resolvi ler!
O livro conta a história de uma mulher, Holly, que teve a sorte de encontrar a sua alma gêmea e, ainda mais: casou-se com ela! O casal tem uma linda história de amor até que o jovem Gerry, (o marido), falece, vítima de câncer, deixando Holly perdida. Mas, num gesto de amor verdadeiro, ele deixa uma lista de coisas que Holly precisa fazer após a morte dele. São dez cartas que devem ser abertas ao seu tempo. Nelas, estão tarefas que a ajudarão a superar a perda. É. É lindo! O cara é um doce! O problema é que essa personagem –Holly- é passiva demais! Eu tenho um problema pessoal com isso... Acho que não consigo me identificar com personagens assim e eles acabam por me irritar boa parte do tempo. A mesma coisa aconteceu com A cor púrpura, filme de Spielberg, mas explico isso outra hora. Voltando: ela segue tudo o que lhe é dito e não toma atitudes próprias, está passiva e alheia a tudo! Tudo bem, eu sei que ela sofreu uma grande perda e tudo o mais, mas é demais!!! Claro que nós -leitores - simpatizamos com a personagem e nos emocionamos com a sua história, mas certas atitudes e essa passividade constante são extremamente irritantes. O livro é bobinho (como é de se esperar), mas vai divertir e emocionar também. Não muda nada na vida de ninguém, mas também não é daqueles que dá vontade de rasgar as páginas de tão ruim. Pelo contrário, dá vontade de terminar e ver no que tudo aquilo tudo vai dar. Ver o que vai acontecer com a protagonista e os demais personagens, ver do que Holly pode ser capaz. Se ela vai acordar dessa dormência, se vai superar, enfim... O livro cumpre sua função. É... Mas nada mudou, continuo não tendo esse gênero como preferência=)

NOVIDADE NO CINEMA:
Fiquei sabendo (http://www.ceceliaahern.ie/) que PS, I Love You vai virar filme! E que Hilary Swank (Menina de ouro, meninos não choram) interpretará Holly. Tá, eu acho que o filme pode ficar mais legal que o livro , mas talvez não, poucos filmes ficam melhores do que os livros que os originaram.

*** Cecelia Ahern (autora do livro) é filha do primeiro ministro irlandês e seus livros são vendidos em mais de quarenta países.Ela também escreveu: If You could See me Now.

Natali Assunção.